segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

QUE DESENVOLVIMENTO URBANO É ESTE PROPOSTO PARA VILA VELHA?

                                                                                           
No mês de julho foi aprovada pela Câmara de Vereadores de Vila Velha e sancionada pelo Poder Executivo, apesar de alguns vetos, importantes alterações no Plano Diretor Municipal (PDM) (Lei municipal n0 4.575/2007). Um dos pontos que mais chamou a atenção negativamente foi a criação de Zonas Industriais (ZIs) e Zonas de Interesse Turístico (ZITs), convertendo boa parte da área rural em urbana.
Tais alterações na legislação municipal revelam uma intencionalidade deliberada do poder público local, articulado a determinados setores privados, de colocar Vila Velha na rota dos investimentos industriais e logísticos. A globalização tem estimulado uma competitividade cada vez mais acirrada entre os lugares por investimentos econômicos. Nesse contexto, o papel econômico das cidades se amplia, ao mesmo tempo, a qualidade de vida e o cotidiano urbano se empobrecem, se degradam.
Um suposto surto industrial em Vila Velha impactará diretamente nas possibilidades de ganhos com a terra urbana. Esse processo, por sua vez, nas condições atuais da dinâmica imobiliária tende a produzir uma cidade ainda mais excludente e em fragmentos. O mercado imobiliário, apoiado em grandes incorporadoras e crédito farto, intensificará a apropriação da cidade.
Os edifícios na orla de Vila Velha se multiplicarão e, ao mesmo tempo, a atividade imobiliária lançará novos produtos imobiliários como os condomínios e loteamentos fechados. Além dos grandes empreendimentos hoteleiros como os resorts. Por outro lado, com o encarecimento do solo urbano, a produção de moradias populares torna-se ainda mais limitada. Esse problema social torna-se ainda mais grave se levarmos em consideração o crescimento da população por causa do processo migratório estimulado pela atividade industrial. Essa população trabalhadora, sem alternativas, passará a se submeter cada vez mais a alugueis e “puxadinhos” nos bairros populares.
A expansão do espaço urbano tende a se realizar pelo mercado imobiliário, excluindo, portanto, grande parte da população local e a que chegará estimulada pelo crescimento industrial. Com isso, a população assalariada ficará reclusa em áreas cada vez mais restritas e densas na cidade. Serão nesses lugares onde se concentrarão os mais graves problemas urbanos e sociais da cidade.
Portanto, o que se vislumbra para Vila Velha como resultado do modelo de desenvolvimento encampado pelo poder público, e seus aliados, é uma cidade onde se acirra a exclusão social e a identidade coletiva se esvai nos fragmentos urbanos.
Uma parte do município será formada por grandes plantas industriais, retro-áreas e portos secos, interligados por eficientes rodovias. Por outro lado, a verticalização se intensificará na orla, “ilhas” residenciais se espalharão pelo município e a periferia tornar-se-á cada vez mais densa, multiplicando os problemas históricos dessa parte da cidade.
É essa Vila Velha que queremos? Que desenvolvimento urbano é este?

 Thalismar M. Gonçalves 
AGB - Vitória-ES 
Nota explicativa: este texto foi produzido em setembro de 2011 a pedido do Fórum de Defesa de Vila Velha na ocasião do Seminário "Vila Velha e os Rumos do Desenvolvimento", no qual a AGB foi convidada a participar. 

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